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sexta-feira, 8 de abril de 2011

“Pessoas sábias...”


_ Entra João Paulo. Põe os relatórios ai e espera. Não demoro.
O menino aguardou por uns 10 minutos olhando em volta da sala. Era uma verdadeira bagunça com organização. Livros e livros esparramados em todas as direções, mas as pilhas eram separadas por tipos. Achou curioso.
O técnico vendo o rapaz olhar em volta achou graça e perguntou.
_ Nunca viu tanta bagunça?


_ Não senhor! Nunca vi foi tanto livro técnico num espaço tão pequeno! O senhor já leu todos?
_ Sim, tenho o habito de ler rápido e guardo pra efeito de consulta, mas já estou substituindo todos por livros digitais. Caso precise posso consultar aqui no meu terminal ou em qualquer outro lugar. E se der certo, vou doar todos para alguma reciclagem. O que achou?
_ Nossa! Boa idéia. Mas não seria melhor doar pra quem queira ler eles? Pra poder ser aproveitado novamente?
_ Creio que não! Quase 100% das pessoas quando pegam um livro usado o fazem para parecer inteligente. Uma pessoa que queira mesmo saber o conteúdo de cara já diz algo sobre ele e se o prefácio é interessante. O restante pega e usa como peso de papel na mesa. Nunca lê. Mas reciclando, ajudo duas vezes. Menos uma arvore no chão e mais um livro eletrônico vendido. Assim quem quiser pode pegar e ler na minha conta na biblioteca virtual sem gastar papel. E onde quiser. Parece mais correto, ou menos desperdício.
_ Nunca tinha visto a coisa por essa maneira. E, desculpa perguntar, o que o senhor mais lê?
_ Ultimamente eram manuais e conceitos sobre mecânica. Mas de uns tempos pra cá me voltei pra filosofia. Não entendo nada. Mas filosofia funciona assim mesmo. Na hora não faz nenhum sentido, mas com o tempo diz muita coisa. Você gosta?
_ Não senhor! Nunca dei conta de entender. Nem na escola, quanto menos no dia-a-dia. Parece coisa de gente doida ou que quer enrolar as pessoas.
Deu uma pausa como se estive falando demais e esperou o técnico lhe devolver os papéis.
_ Acho um bom argumento! Sempre pensei da mesma forma, mas quando me deparei com um problema de trabalho que envolvia conceitos de funcionamento, foi justamente num livro de filosofia que achei algo que fizesse sentido. Ai comecei a ler e aplicar o que havia ali junto com o que fazemos hoje. Funciona bem! Não entendi tudo, mas funciona bem.
_ Qual livro?
_ Hum... Perai! Deixa eu terminar aqui! – terminou de assinar os papéis, levantou foi até a pilha do meio e procurando achou um livro de capa marrom. Fustel de Coulanges – “A cidade antiga”.
_ E isso tem a ver com o que o senhor faz? De que jeito?
_ Se eu contar ou der uma indicação, você vai ficar mais preocupado em seguir meu raciocínio do que procurar o significado do que contem o livro. A idéia da filosofia é criar em você seu senso crítico e não que você siga o dos outros. Entende?
_ Mais ou menos. Quer dizer que uma idéia a partir do que é explicado tem de ser minha? Não devo seguir uma que já foi feita? Digo... Como se diz?
_ Pré-concebida! Creio que seja por ai mesmo! Explicação simples, mas eficaz!
Terminado de ver a papelada que estava em cima da mesa, pegou o que interessava e devolveu ao garoto. E de bate-pronto disse.
_ Não tem porque não tentar. Leia um pouco. Caso goste, me faça um resumo. Caso não goste, basta trazer de volta. Tem um monte ai que pode ser interessante pra você. Pode levar. Ah... Mas antes, leva isso que o pessoal da contabilidade ta esperando. Depois volte e pegue o livro se quiser.
O rapaz saiu com o envelope o mais rápido que pode.
Se ele voltou para pegar o livro?


“... falam sobre idéias”

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