terça-feira, 14 de agosto de 2012

Alienação de alto nível.


Na minha profissão por obrigação tenho de atender diversas pessoas. Vários ambientes e gente de todos os tipos que puder imaginar. O medíocre, que faz força para não entender. O mediano que se esforça em entender ou até mesmo admitir que não ‘pegou direito’ o espírito da coisa e, por fim, o instruído que de primeira tem a maior facilidade em assimilar o que lhe foi passado. Até ai tudo bem. O que me chama a atenção é que às vezes as polaridades se invertem de maneira inusitada.

Certa vez, em uma das minhas visitas fui instruído a ensinar uma pessoa que ao ver de primeira imaginei que teria muito trabalho. Motivo? Não sabia sequer ligar o equipamento. Até já fiquei preocupado. Achei que iria dar trabalho e que ficaria naquilo por um longo tempo. Ledo engano e grata surpresa. Com apenas 1/3 do tempo previsto ela além de fazê-lo com sobras – Cheguei a pensar que estava fingindo. – ainda me mostrou melhorias que poderia implementar no meu trabalho. Ponto para a vontade dela e uma lição para mim. Fui preconceituoso, mas valeu à pena.

Bem, essa foi à grata surpresa. Agora a surpreendente decepção.

Em outra circunstância á frente de um senhor, formado, bacharelado e sei lá mais o que, mediante a demonstração das alterações que apresentei e das propostas para novos componentes este me disse que não aceitaria, pois não estava dentro das especificações e que não era interessante. Quando tentei lhe mostrar as funcionalidades nem mesmo quis olhar. Sendo franco, foi ríspido. Insisti. Ai foi grosseiro mesmo dizendo que tinha curso superior e sabia do que estava falando e que deveria de imediato fazer o que ele mandava. Sendo assim...

Trabalho refeito. Hora de apresentar.

E lá fui eu novamente com hora marcada para poder apresentar o que e como me foi pedido. Logo de inicio a mesma pessoa em questão – A esposa talvez não quisesse ter transado com ele ou coisa assim! – estava de mal humor e nem bem respondia. Vendo que aquilo não ia adiante perguntei se gostaria que retornasse á tarde ou talvez no dia seguinte. Ele na frente de todos, sem pestanejar, perguntou se estava com preguiça ou se não havia feito o que ele me ordenara. Vou pular a parte onde fico roxo e conto até 1000. Respondi que estava tudo bem e que aguardaria. Afinal cheguei alguns minutos mais cedo. Ele me deixou esperando por mais de uma hora e meia. Esperei.
Quando, finalmente fui atendido, ao ver as modificações, num arrobo de viadagem destempero ele me disse, quase aos berros, que não era nada daquilo que havia dito e que o trabalho estava uma merda. E que de mais á mais tinha curso superior e entendia perfeitamente do que estava falando. Paciência. Disse que reveria novamente todo o processo e lhe entregaria em breve.

E, mais uma vez...

Uma semana depois, alguns telefonemas para checar tudo, e um longo período de espera para poder ser atendido, fui-me novamente para esse encontro – Que já me causava náuseas se quer saber. -  para poder por fim a esse martírio. Chegando, a pessoa em questão havia dito para aguardá-lo na sala de reuniões. Dito e feito lá fiquei esperando. Dessa vez por um curto espaço de tempo. Ele ao entrar vinha acompanhado de uma moça e mandou que se sentasse e observasse. Não entendi, calei-me. Ao dizer o que queria e que precisa daquilo logo, disse para avaliar e dizer o que achava. Como dizer isso sem parecer que é uma invenção? Ele simplesmente á minha frente, ridicularizava meu trabalho na frente da moça. Perguntou onde já se viu um lixo como esse e como alguém se propunha a fazer algo daquela forma? Falava como se eu não estivesse ali. Nisso ele fez uma citação que me chamou a atenção, e que foi justamente essa: “No meu tempo de faculdade, onde conclui com louvor meu curso de administração nunca deixaríamos uma coisa assim acontecer! Onde já se viu? Isso aqui só serve para quebrar o galho, mas vou ver se existem outras opções no mercado para chegarmos a um nível mais satisfatório. Por favor, pode ir. Depois nos falamos!”. A moça se retirou da sala, ele me olhou com um olhar de superioridade que realmente mais parecia que estava fazendo força num vaso sanitário e por fim disse: “É exatamente isso que estava tentando lhe dizer! Você precisa aprender a prestar mais atenção no que lhe digo. Eu sei das coisas. Se me ouvir você vai longe” – Não sei como não vomitei naquela hora!
Ao fim dessa sessão de tortura fui dispensado e podia receber meu pagamento. Para encurtar a história, depois de tudo isso, passados 3 ou 4 meses esse prodígio da elite do aprendizado foi dispensado. Tornava o ambiente de trabalho insuportável.

Inteligência não é nada sem sabedoria.

[¹] A alienação trata-se do mistério de ser ou não ser, pois uma pessoa alienada carece de si mesmo, tornando-se sua própria negação. Alienação refere-se à diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar em agir por si próprios.
[²] Também é data como a total falta de perspectiva e incapacidade de criação, sempre se atendo ao mesmo ponto sem nunca variar ou criar por si.
[³] Veja também: Papagaios.

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