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terça-feira, 13 de maio de 2014

Contos: Depois do Aqueronte.

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Descendo sozinho não havia muito que apreciar na paisagem. Era tudo penumbra com arvores secas terra batida ou lamacenta e uma vez ou outra arbustos cheios de espinhos sem uma única folha sequer. Nada bonito de se ver. Quando chegava próximo a uma ravina a escuridão ficou total, mas não havia outro lugar para dirigir-se. Parecia perigoso, mas não havia como recuar, olhar para traz dava calafrios. Quando ia adentrar o local uma voz disse;

_ Alto lá viajante! O perigo ai se acerca. Não é seguro.


De pronto parou e olhou ao redor, não via viva alma, mas a voz ele ouviu, então respondeu.

_ E vós, quem és que não consigo divisar-te? – Seguido a isso olhando melhor a cabeceira da ravina viu um vulto se formar nas sombras como se fosse fumaça a tomar forma e quando mais se aproximava esse mais nítido ficava. Parecia se formar na frente dele. Apenas se aproximou e respondeu;


_ Não é porque estamos nos confins que tenho de deixar todos passarem o que já passei. Gostaria de dizer que é um prazer, mas nas atuais circunstancias...

_ Grato! O que há além?

_ Não vai querer saber! Confie em mim. – O sorriso era de arrepiar, mas havia bondade nos olhos vazios e emendou; _ Aceitas uma maçã?

_ Existem maçãs aqui?

_ Inocente, não sabes de nada...

_ E o que fazes tu aqui se ainda contém um pingo de altruísmo? De certo não foi merecedor, estou certo?

_ É o que todos dizem aqui, mas deixe estar. Sina não existe apenas conseqüências dos atos. Aceitei o meu castigo, mas isso não acabou com minha alma. Apenas a mandou para onde merecia. E vós? O que andou aprontando em Midgard para vir parar aqui onde a esperança nem passa na porta?

_ Midgard?

_ ... Ah... Gaia!

_ ... Oi?

_ ... Hã... Gea?

_  Piorou!

_ Certo, entendi! Terra. Bem, tornando... Qual sua culpa nesta viagem pra lá de desconfortável? Podes dizer?

_ Claro! Por que não? Já que estamos aqui vou aproveitar e abraçar o anfitrião.

_ Pode apostar! Isso vai mesmo...

_ Perdão, mas o que disse?

_ Nada! Não disse nada. Por favor, prossiga. Não existem muitos aqui dispostos a conversar.

_ Ah... Ceeeeeerto. Como ia dizendo, o que parece ter acontecido foi o crime da ilusão...

_ Eras um mágico? (risadas)

_ Não! Em absoluto. Eu tinha, digamos, a mania de fazerem crerem em mim á perfeição, pureza e candura. Quando chegava onde queria e fazia o que desejava, simplesmente deixava ao léu quem em mim depositou esperanças e seguia minha vida. Pelo que notei foi isso o que o anjo segurando uma espada de fogo e uma voz cavernosa disse ser o motivo do meu ingresso nesse lugar. Não diria que fiz por mal ou coisas assim, só achava que a credulidade humana é algo a ser tirado proveito. Bem, sendo franco, nem acreditava que lugar como esse pudesse existir. E já que me inquiriu, podes me dizer qual foi tua perdição?

A sombra em forma humana sorriu, virou-se e começou a se distanciar de volta para a beira do abismo, mas antes de sumir apenas disse...

_ Acreditei em pessoas como você.


Author: Tyr.

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