...
Descendo sozinho não havia muito
que apreciar na paisagem. Era tudo penumbra com arvores secas terra batida ou
lamacenta e uma vez ou outra arbustos cheios de espinhos sem uma única folha
sequer. Nada bonito de se ver. Quando chegava próximo a uma ravina a escuridão
ficou total, mas não havia outro lugar para dirigir-se. Parecia perigoso, mas
não havia como recuar, olhar para traz dava calafrios. Quando ia adentrar o
local uma voz disse;
_ Alto lá viajante! O perigo ai
se acerca. Não é seguro.
_ E vós, quem és que não consigo divisar-te?
– Seguido a isso olhando melhor a cabeceira da ravina viu um vulto se formar
nas sombras como se fosse fumaça a tomar forma e quando mais se aproximava esse
mais nítido ficava. Parecia se formar na frente dele. Apenas se aproximou e
respondeu;
_ Não é porque estamos nos
confins que tenho de deixar todos passarem o que já passei. Gostaria de dizer
que é um prazer, mas nas atuais circunstancias...
_ Grato! O que há além?
_ Não vai querer saber! Confie em
mim. – O sorriso era de arrepiar, mas havia bondade nos olhos vazios e emendou;
_ Aceitas uma maçã?
_ Existem maçãs aqui?
_ Inocente, não sabes de nada...
_ E o que fazes tu aqui se ainda
contém um pingo de altruísmo? De certo não foi merecedor, estou certo?
_ É o que todos dizem aqui, mas
deixe estar. Sina não existe apenas conseqüências dos atos. Aceitei o meu
castigo, mas isso não acabou com minha alma. Apenas a mandou para onde merecia.
E vós? O que andou aprontando em Midgard para vir parar aqui onde a esperança
nem passa na porta?
_ Midgard?
_ ... Ah... Gaia!
_ ... Oi?
_ ... Hã... Gea?
_ Piorou!
_ Certo, entendi! Terra. Bem,
tornando... Qual sua culpa nesta viagem pra lá de desconfortável? Podes dizer?
_ Claro! Por que não? Já que
estamos aqui vou aproveitar e abraçar o anfitrião.
_ Pode apostar! Isso vai mesmo...
_ Perdão, mas o que disse?
_ Nada! Não disse nada. Por
favor, prossiga. Não existem muitos aqui dispostos a conversar.
_ Ah... Ceeeeeerto. Como ia
dizendo, o que parece ter acontecido foi o crime da ilusão...
_ Eras um mágico? (risadas)
_ Não! Em absoluto. Eu tinha,
digamos, a mania de fazerem crerem em mim á perfeição, pureza e candura. Quando
chegava onde queria e fazia o que desejava, simplesmente deixava ao léu quem em
mim depositou esperanças e seguia minha vida. Pelo que notei foi isso o que o
anjo segurando uma espada de fogo e uma voz cavernosa disse ser o motivo do meu
ingresso nesse lugar. Não diria que fiz por mal ou coisas assim, só achava que
a credulidade humana é algo a ser tirado proveito. Bem, sendo franco, nem
acreditava que lugar como esse pudesse existir. E já que me inquiriu, podes me
dizer qual foi tua perdição?
A sombra em forma humana sorriu,
virou-se e começou a se distanciar de volta para a beira do abismo, mas antes
de sumir apenas disse...
_ Acreditei em pessoas como você.
Author: Tyr.
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