quarta-feira, 14 de março de 2012

47 Samurais e uma vingança em nome da honra.


Dizer que gosto de histórias do Japão - principalmente do período feudal - é chover no molhado. Desde que conheci a obra de James Clavel - Shogun - não parei mais de ler artigos sobre como é o modo de vida desse país. Existem milhares de histórias que valem a pena ser lidas. De como viviam, o comportamento e principalmente a conduta das castas que se formaram ali no período do shogunato (1600 - 1896). É uma viagem no tempo onde honra valia vidas e era seguida á risca.



No começo do século XVIII, o Japão era governado por Tokugawa Tsunayoshi , um entusiasta da arte. Incentivava as letras e a ciência através da fundação de escolas e da proteção aos artistas.

shogun chamou o daimyô - senhor feudal - de Ako (atual região de Hyogo), Asano Takuminokami Naganori, para exercer uma função de entreter os convidados imperiais em Edo. Como Asano, até então, tivera pouco contato com as cerimônias da corte, Kira Kozukenosuke Yoshinaka, um alto funcionário de Tsunayoshi e especialista em cerimômias, foi escalado para treinar o recém-chegado daimyô.Mas Kira era um homem corrupto e, indignado, queria que Asano o recompensasse financeiramente pelo incômodo. Iniciou-se então uma turbulenta relação. Kira insultava o seu aluno com freqüência, não perdia uma oportunidade sequer de humilhá-lo, até que no final de março de 1701, irritado pelas atitudes de Kira, Asano desembainhou sua espada e avançou sobre seu professor ferindo-o levemente na face.


"Qualquer ato violento nas dependências do castelo de Edo era considerado uma ofensa ao shogun" e, portanto, Asano foi ordenado a cometer o seppuku. Antes de morrer, o daimyô escreveu:

"As flores que caem não querem partir, mais frustrado do que as flores, o que devo fazer?"

O clã de Ako foi confiscado e os 300 samurais de Ako tornaram-se ronins,samurais sem daimyô e conseqüentemente sem sustento. O clã se dispersou, mas foi formado um pequeno grupo de 47 pessoas que planejaram vingar a morte de seu daimyô. Entre estes, destacou-se um fiel guerreiro chamado Oishi Kuranosuke Yoshitaka, também conselheiro de Asano.

Sabendo que Kira aumentaria a sua segurança, Oishi ordenou que todos os 47 samurais dessem continuidade às suas vidas de modo a não despertar suspeitas, que vivessem como se tivessem abandonado o código de conduta dos samurais. Alguns viraram carpinteiros, alguns pescadores e outros mendigos. Oishi passou a viver em prostíbulos e renegou sua família.

Certo dia, um samurai de Satsuma (hoje Kagoshima) reconheceu Oishi jogado na rua completamente alcoolizado. Enfurecido pela covardia do bêbado, o transeunte chutou-o no rosto e cuspiu nele com desprezo.

Os espiões contratados por Kira relataram a vida desregrada dos possíveis vingadores e a segurança foi afrouxada. Até que na madrugada de 14 de dezembro de 1702, quase 1 ano e meio após a morte de Asano, sob forte neve, os 47 samurais atacaram a mansão de Kira em Edo.

Divididos em dois grupos, um liderado por Oishi e outro por Chikara (filho mais velho de Oishi), pegaram os guardas desprevenidos e logo dominaram a situação. Mas Kira tinha fugido. Rapidamente Oishi organizou uma busca e descobriram uma passagem secreta que levava a um pátio onde estava Kira, algumas mulheres e dois guardas. Os ronins mataram os guardas e o líder, em respeito ao alto posto de Kira, ajoelhou-se na frente do covarde e lhe explicou porquê aqueles 47 samurais estavam ali e convidou-o a morrer com dignidade cometendo o seppuku. Aterrorizado, Kira não disse uma palavra sequer e Oishi ordenou a decapitação.

Antes de se entregarem às autoridades, os 47 ronins levaram a cabeça de Kira até o túmulo de Asano. Na ocasião Oishi escreveu:

"Estou feliz. Realizei o meu desejo e agora é a hora de morrer. Não existem nuvens na lua da minha vida."
 


Conforme o esperado, todos os 47 foram condenados à morte por terem assassinado um funcionário do governo. Mas em vez de serem executados, em respeito à lealdade dos samurais, em 4 de fevereiro de 1703, foi-lhes dado o direito de cometerem o seppuku. Todos eles foram enterrados ao lado de seudaimyô no templo de Sengakuji.

Diz a lenda, que o samurai de Satsuma que chutou Oishi, sabendo da verdadeira história, foi até Sengakuji pedir perdão e cometeu o seppuku. Ele também foi enterrado ao lado dos ronins.

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